Pedindo
de antemão licença ao Aurélio, acrescento no significado: extraordinário e
inóspito.
É
assim que vou retratar o Excêntrico Tepuy.
É essa
visão, após dois dias, dois rios, 22 km e altimetrias de 250m à 1.000m, que
pouco a pouco, passo a passo, se tem.
Mas
antes disso, ocorre um indispensável desprendimento, o Excêntrico faz a
concessão da visita com restrição: mínimo e necessário para sobrevivência é o
que se deve levar, o a mais e o desnecessário será estorvo no mochilar.
Isso
aprende-se com os pemóns da comunidade Paratepuy, figuras de expressão singela,
com marcas expressivas da voracidade do clima e pernas hipertrofiadas, que
vivem em seu dia a dia, a labuta de subir carregando o essencial.
Aprende-se
que não existem previsões precisas; aprende-se a aceitar o que o dia possa
oferecer! Vai além, vai ao cerne!
O bom é que queda
d’água e água fria tem em todo lugar.
Um
banho, outro banho, outros banhos, no rio, na cachoeira, na jacuzzi natural;
limpa, lava, purifica!
Mas
o banho “batizador”, que pode ser de gotículas ou enxurradas, sem dúvida alguma,
é no ‘paso de las lágrimas’!
A
essa altura, encarar o Excêntrico até seu topo está em sua reta final, reta aclive,
considerando mais 1.000m de altitude.
Na
montanha de chão irregular, parecido com a superfície lunar, diante da extensa
imensidão, o giro 360º na ‘las ventanas’ pruma o eixo e eleva a condição humana
ao que realmente somos: todos iguais com diferenças singulares e limitações
transponíveis e intransponíveis.
E os
dias, na considerável altimetria de 2.875m, com fenômenos climáticos abruptos,
têm flores, uma mais bela e formosa que a outra, aliás, cada qual com sua
beleza!
Tem
comida da boa, com tempero misturado do tríplice verte que nutri o físico.
Tem
alimento pra alma!
O Excêntrico
ensina o tempo todo a todo tempo e, na diferença singular limitada transponível,
a reflexão constante ecoa: paciência! Paciência!
Imediatismo
não se adapta ao “Mundo Perdido”, não mergulha no ‘el foso’, não flutua no ‘lago
Gladys’, nem ao menos mira o ‘Maverick’. Imediatismo só acelera o tempo e a
pulsação em vão.
Minha 36ª
experiência, rumo à expedição ao Excêntrico, resultou algumas bolhas em meus
pés, porém, rompeu outras em meus pensamentos e foi descomunal.